E ela tinha uma risada maldita, ria igual uma criança ao
ganhar um brinquedo novo, sua pureza era algo notável para qualquer um. Ela marcou
a minha vida, eu sei que não marquei a dela, ela é bonita, pura, sorridente,
enfim, ela é encantadora, capaz de encantar qualquer “machão” só com um
sorriso.
Eu me lembro do céu quando eu terminei com ela, ele estava
escuro e uns pingos já escorriam das imensas nuvens negras. Ela pegou no meu
rosto e perguntou se era essa minha vontade: Terminar. Eu concordei, mas não
era. Ela me encantou de uma forma que ainda tenho dúvidas se foi apenas encanto
ou se foi amor, e quando nós amamos, de verdade, nós se importamos mais com os
sentimentos da pessoa amada do que os nossos, eu sabia que ela encontraria
alguém melhor, eu nem sei amarrar um tênis direito, o que ela iria ganhar
comigo?
Havia lágrimas nos seus olhos quando eu disse que sim, eu
tenho certeza disso, menti, achei que ela questionaria, mas ela não o fez. Ela
sorriu, pegou a bolsa que estava no banco de trás e beijou meu rosto que nesse
momento já estava molhado com as lágrimas, e, então, ela me deu a honra do seu
último olhar, abriu a porta e sorriu, ela se debruçou na janela e disse: “Seja
feliz, estarei torcendo por você, meu
amor”, seu rosto corou quando me chamou, pela última vez, de amor.
Fechei a janela e pude ver ela acenando, aquele foi o último
gesto que ela fez para mim.
Eu lembro dos momentos bons também, quando alguém termina é
normal lembrar somente das horas ruins, mas a verdade é que ela me proporcionou
os melhores momentos da minha vida. Nosso primeiro encontro, minha primeira vez
na praia, e quando eu quase enfartei quando ela me mostrou seu sorriso
encantador de dentes brancos perfeitos.
-O sol – Reclamei colocando minhas mãos sobre meu rosto
para evitar o contato com os raios solares. – Na cidade ele não é tão forte.
-Você não gostou? – Ela disse enquanto passava protetor
solar em seus braços – O sol é o mesmo da cidade, ele não muda. O sol é o mesmo
de quando você nasceu, o sol é o mesmo que te fez suar quando você jogou seu
primeiro campeonato de futebol, o sol é o mesmo que bateu no rosto do seu
primeiro amor e o fez suspirar, entende? O sol não muda. – Ela sorriu revelando
seus dentes alinhados, ela era intensa e adorava me contrariar, eu adorava isso
nela, aliás, eu adorava tudo nela.
Fomos para cabana e então ela me contou seus sonhos, seus
planos e até os nomes dos filhos que ela queria ter. Hoje eu ainda choro ao
lembrar que todos os seus planos estão sendo concretizados com o seu novo
namorado, ela ainda queria ter filhos? Ainda tinha a pureza de uma criança? E o
olhar dela, ainda tem o mesmo brilho? Não
sei.
Era isso que eu respondia para todos que me perguntavam sobre
ela, eu mentia, eu sabia muito bem que ela era capaz de ter um futuro com
qualquer um, uma vez ela me disse que não baseava sua felicidade em ninguém, eu
a invejei, pois naquele momento minha felicidade tinha nome, endereço e o olhar
mais puro que eu já encontrara.
- Isabelle Cordeiro